Conto adulto de solidão: No silêncio do quarto 304, confissões que nunca serão ouvidas
Conto adulto de solidão: No silêncio do quarto 304, confissões que nunca serão ouvidas
O som do ventilador quebrado girando no teto era a única coisa viva naquele quarto de hotel barato (palavra-chave associada ao ambiente comum em contos urbanos de solidão). O número 304 piscava com uma luz fraca no corredor abafado. Mariana entrou arrastando os pés, os olhos vermelhos como se tivessem discutido com o espelho pela milésima vez. Na mesa, uma garrafa de vinho barato já aberta e um copo meio cheio com batom vermelho no canto denunciavam que aquele não era o primeiro refúgio da noite.
Ela se sentou na beira da cama. Aquela cama que parece conhecer todos os tipos de abandono – casais em crise, amantes em segredo, solidão urbana, e vazios existenciais, que se acumulam silenciosamente. Mariana estava ali por nenhum desses motivos, e ao mesmo tempo por todos. Ela não procurava alguém. Procurava esquecer alguém, ou talvez esquecer a si mesma.
Na parede ao lado, rabiscado com caneta esferográfica, alguém havia escrito: “Às vezes o amor não é suficiente pra impedir o estrago.” Ela leu aquilo várias vezes. Estava cansada de encontrar seus próprios sentimentos traduzidos por estranhos anônimos. Era como se todo mundo que passasse por ali carregasse um pedaço do mesmo vazio. Um vazio coletivo. Universal. Digital.
Tirou do bolso um bilhete amassado. Nele, só três palavras escritas com raiva: “Você me destruiu.”
Era pra ele.
Era pra ela mesma.
Era pros dois.
E ninguém nunca ia ler.
Mariana conheceu Caio num evento qualquer de literatura independente. Ele era o tipo de cara que parecia ter nascido pra entender os buracos nos outros. Falava baixo, ouvia demais, e tinha um talento raro: fazia as pessoas se sentirem únicas só por existirem perto dele. Eles se encontraram mais algumas vezes. Tomaram cafés em silêncio, se olharam mais do que se tocaram. Não foi um romance de novela. Foi o tipo de conexão que deixa marca invisível, mas eterna. Caio, porém, nunca esteve disponível. Nem emocionalmente, nem logisticamente. Ele já era de outra. E mesmo assim, ela ficou.
Ficou nos espaços entre as mensagens. Ficou nos intervalos dos silêncios. Ficou até perder a noção de onde terminava ela e começava ele. Até um dia ele simplesmente sumir. Sem briga, sem explicação. Só um “preciso de um tempo” seguido de nada.
O conto que ela escrevia com ele ficou no rascunho.
E ela, no limbo.
Mariana se deitou na cama dura do 304 e encarou o teto como se buscasse resposta entre os giros lentos do ventilador. Ela sabia que, dali a algumas horas, ia sair e seguir a vida. Ia postar frases de dor emocional no Instagram, fingir risos no trabalho e dormir tarde demais só pra evitar a solidão do travesseiro.
Mas naquela noite… ela permitiu sentir.
Permitiu lembrar.
Permitiu chorar tudo que não chorou no dia que ele partiu.
Ela não queria que fosse eterno. Só queria que tivesse sido de verdade.
O relógio marcava 2h13. No celular, nenhuma notificação. Nenhuma mensagem dele. Nenhuma promessa nova. Nenhuma desculpa velha. Ela fechou os olhos e pensou em todas as versões de si mesma que se perdeu tentando agradar alguém que nunca ficou.
Quando acordou, o copo estava vazio.
E ela também.
Mas, pela primeira vez, aquilo não a assustou.
Era o primeiro dia sem ele. De verdade.
E, ironicamente, era o primeiro em que ela realmente se sentia inteira.
Ou, pelo menos, no caminho de ser.
Por: LegendZilla
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