Conto adulto de solidão urbana: A última noite na cidade que me esqueceu

Conto adulto de solidão urbana: A última noite na cidade que me esqueceu

Aquela era a última noite dela naquela cidade que, nos últimos dois anos, tinha sido palco de tudo que ela não queria lembrar — ou talvez o único lugar onde aprendeu a sentir, mesmo que doendo demais. O céu escuro refletia as luzes amareladas da rua, e o vento cortante trazia um cheiro misto de fumaça e saudade. No apartamento pequeno, vazio e com as paredes que pareciam querer engolir tudo, ela ficou sozinha com os fantasmas que resolveu enfrentar.

Sentada no chão frio, rodeada por caixas abertas e memórias empilhadas, ela sentia a solidão urbana pesando no peito como uma âncora invisível. Não era só a ausência das pessoas; era a sensação de ser esquecida pela cidade, de ter se tornado um rosto na multidão — um rosto que ninguém mais procurava. O amor não correspondido que carregava não ajudava. Ele tinha ido embora meses antes, deixando só o eco das promessas quebradas e uma série de mensagens não respondidas no celular.

Ela começou a caminhar pela sala, os passos ecoando no silêncio que só quem vive a solidão sabe o peso. A mente revisitava cada momento, cada palavra que se perdeu no vazio existencial que agora consumia seu cotidiano. Tentou se agarrar a frases que já viu em redes sociais — aquelas que falavam sobre recomeços, força, esperança — mas nada soava verdadeiro. Era só uma camada fina que cobria a ferida aberta.

A última noite na cidade virou uma despedida silenciosa, um ritual particular. Ela pegou uma velha foto do casal que um dia foram, rasgou com um sentimento que misturava raiva, tristeza e libertação. Cada pedaço que caía no chão era uma parte dela que decidia deixar ir.

No relógio, o ponteiro andava, mas o tempo parecia parado no coração dela. O vazio existencial — essa sensação de que falta algo que nem mesmo sabe explicar — apertava, mas havia também uma pequena fagulha de algo novo: a vontade de se encontrar fora daquela história que só doía.

Ela respirou fundo e pegou o celular para apagar as mensagens que não tinha coragem de deletar. Um passo que significava mais do que um simples clique: era um adeus para o que não servia mais. A cidade que a esqueceu não era mais o lugar dela, e talvez, finalmente, ela pudesse esquecer o que a fez ficar.

Naquela noite fria, o silêncio urbano foi testemunha de uma renascença íntima — lenta, dolorosa, mas necessária.

Por: LegendZilla.

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