Histórias de Terror: No Silêncio da Casa Abandonada
No Silêncio da Casa Abandonada
Eu nunca acreditei muito nessas histórias de casas mal-assombradas, até o dia em que me vi preso naquele lugar, cercado pelo silêncio que mais parecia um grito sufocado. A casa velha no fim da rua, abandonada há anos, tinha um jeito de sugar a luz do dia, deixando tudo ao redor mais cinza, como se a esperança ali tivesse morrido.
Era uma noite de chuva fina, o tipo que molha até a alma sem fazer barulho. Eu precisava entrar naquela casa. Não sei bem o porquê — talvez uma mistura de curiosidade e um vazio que apertava no peito — mas algo me empurrou para lá.
Assim que ultrapassei a porta rangente, o ar ficou mais pesado, denso. O cheiro de mofo e esquecimento invadiu meus pulmões. Não tinha nada além do eco dos meus passos e da minha respiração trêmula. Tudo parecia morto, mas eu sabia que não estava sozinho.
No escuro, sombras pareciam se arrastar pelas paredes, distorcidas, sussurrando coisas que eu não conseguia entender, mas sentia na espinha. A casa tinha uma história, uma presença que não se via, mas que fazia questão de ser sentida.
Eu tentei recuar, mas a porta que eu tinha acabado de abrir desapareceu, como se nunca tivesse existido. O medo subiu pela garganta, deixando minha voz presa no silêncio da casa que agora parecia um labirinto feito de lembranças tortas e pesadelos antigos.
Aos poucos, meus olhos começaram a se acostumar com a escuridão, e consegui perceber detalhes que antes me escapavam. As paredes, descascadas e sujas, tinham marcas — arranhões profundos, como se algo lutasse para sair dali, ou tivesse sido puxado contra a própria alma do lugar. Um arrepio gelado desceu pela minha espinha, e minha mão tremia enquanto eu encostava no que parecia ser um antigo espelho.
Mas o reflexo não era o meu.
No vidro embaçado, uma figura sombria estava atrás de mim. Não dava para ver o rosto direito, só a silhueta distorcida, como um vulto feito de sombra líquida. Quando me virei abruptamente, não tinha nada. Só o vazio, o silêncio pesado, quase sufocante.
A respiração começou a acelerar. Eu sentia, com toda força, que algo estava ali, observando. Não era um olhar comum, era como se a própria casa tivesse olhos, seguindo cada movimento, esperando o momento certo pra fechar a armadilha.
Tentei buscar a porta novamente, o único caminho pra escapar daquele inferno silencioso, mas só encontrei paredes onde antes havia corredor. O espaço parecia se transformar, se moldar para manter-me ali, preso na escuridão que se enraizava dentro da minha cabeça.
Ouvi um sussurro. Fraco, quase como um gemido, mas carregado de dor e raiva. A voz parecia vir das paredes, dos cantos escuros, das sombras que se alongavam e se apertavam ao redor. Não conseguia entender as palavras, mas sabia que não era um convite — era um aviso, uma maldição.
Meus joelhos cederam, e caí no chão frio, sentindo o peso do medo esmagar meu peito. O que quer que fosse aquela coisa, não estava ali pra brincar. Estava ali para me consumir.
E a noite só estava começando.
O sussurro se transformou em um murmúrio que me envolvia, palavras desconexas que pareciam se arrastar das profundezas da casa. Meus olhos buscavam um ponto de fuga, mas só encontravam o vazio — aquele espaço que parecia engolir qualquer esperança.
De repente, senti um toque gelado no ombro. Meu corpo congelou. Virei lentamente, mas não havia nada ali, apenas a sombra que pulsava nas paredes, viva e respirando.
Respirei fundo, tentando controlar o pânico que ameaçava me dominar. “Você não vai me prender aqui,” murmurei para o escuro, mais para mim mesmo do que para qualquer outra coisa.
Foi quando a luz vacilou. Um lampejo fraco iluminou uma figura sentada no canto do corredor — uma mulher, pálida, com olhos vazios que pareciam abismos sem fim. Sua boca se abriu em um sorriso torto, mas não havia vida naquele sorriso, só um convite sinistro.
Tentei falar, perguntar quem ela era, o que queria, mas as palavras se perderam no ar gelado. A figura levantou-se lentamente, seus movimentos desconexos como se não pertencesse a este mundo.
Eu queria correr, mas minhas pernas não obedeciam. O medo me tinha preso, um prisioneiro da própria mente.
Então, ela sussurrou algo — uma promessa que me gelou a alma: “Você nunca vai sair daqui.”
E a casa fechou as portas atrás de mim, selando meu destino.
O sorriso torto daquela mulher pálida se alargava, mas não havia calor nem humanidade nele. Era como se a própria escuridão tivesse ganho forma, um aviso silencioso de que ali o tempo não passava, e que o medo era eterno.
De repente, o corredor ao meu redor começou a se distorcer, as paredes pulsando como se tivessem vida própria. O chão parecia feito de um líquido negro, que sugava meus pés, impedindo qualquer movimento.
Eu gritei, uma palavra presa na garganta, mas o som foi engolido pelo vazio.
A mulher se aproximou, cada passo lento e pesado, e então seu rosto se aproximou do meu, olhos vazios fixos nos meus, revelando um abismo de solidão e dor infinita.
“Você é parte desta casa agora,” ela sussurrou. “Aqui, o silêncio é eterno, e a solidão é a única companhia.”
Eu queria resistir, lutar contra aquele destino, mas era inútil. A casa me envolvia, me consumia, transformando minha voz num eco distante que ninguém mais ouviria.
Então, quando tudo parecia perdido, uma fagulha de coragem nasceu dentro de mim. Uma voz, a minha voz, fraca, mas real, que decidiu romper o silêncio.
“Eu não vou ficar aqui.”
E naquele instante, a casa tremia, como se reagisse à minha determinação. A escuridão recuou, a porta rangente se abriu, e eu corri, sem olhar para trás.
Quando a chuva fria bateu no meu rosto do lado de fora, eu sabia: aquela noite não me tinha vencido. Eu tinha saído do silêncio.
Mas a casa... a casa ainda espera. E talvez um dia, eu tenha que voltar.
Por: LegendZilla.
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