A Cidade Sem Nome - Um conto filosófico sobre injustiça, caos e a sensação de caminhar sem rumo

 A Cidade Sem Nome

Um conto filosófico sobre injustiça, caos e a sensação de caminhar sem rumo

Caminhei por ruas que não tinham nome, prédios que pareciam erguidos apenas para me lembrar do absurdo da vida. Cada esquina era uma repetição de dor: gente correndo atrás de poder, de dinheiro, de fama, enquanto outros caíam sem que ninguém notasse. 

Tentei acreditar que se fosse correto, se fosse bom, encontraria algum sentido, alguma luz no fim. Mas tudo que encontrei foram sombras longas e sussurros vazios.

Passei por um beco e vi um garoto tentar ajudar um idoso a atravessar. O idoso tropeçou, caiu, e ninguém se aproximou para ajudar. Um homem ao lado, sorrindo por ter enganado outro, passou sem nem olhar.O mundo não distribuía justiça, não punia os errados, não recompensava os justos. 

Era só um ciclo infinito de escolhas e consequências aleatórias, indiferentes ao esforço humano.

Sentei no chão, encostado em uma parede fria, e percebi que a cidade não existia apenas lá fora. Ela existia dentro de mim, como um labirinto sem saída, um reflexo da própria vida: caótica, injusta e absurda. E ainda assim, mesmo sabendo que a recompensa talvez nunca chegasse, respirei fundo.

Caminhar continuava sendo a única opção, mesmo que o destino fosse apenas mais uma rua sem nome.

A cada passo, os sons da cidade pareciam mais distantes, como se ele estivesse sozinho em um mundo que não se importava com ele. Os prédios, antes apenas altos, agora pareciam inclinar-se sobre ele, observando cada movimento, julgando sua fragilidade. O vento frio atravessava as ruas, carregando consigo o cheiro de fumaça, lixo e promessas quebradas.

Sentou-se em um degrau, encostado em uma parede marcada por pichações que diziam tudo e nada ao mesmo tempo: “A vida não tem manual”, “O justo não é premiado”, “Sobreviva e observe”. Ele fechou os olhos e por um instante tentou imaginar que existia algum sentido, algum fio invisível conectando o esforço ao resultado. Mas até a memória parecia lhe trair; lembranças de pessoas boas que haviam sofrido, de sonhos que foram destruídos sem motivo, vinham como punhaladas silenciosas.

No fundo, algo dentro dele sabia que não havia uma resposta universal. Justiça, felicidade, recompensa — tudo isso era apenas um conceito humano, uma tentativa de colocar ordem em um caos que nunca obedeceria. E ainda assim, havia um movimento instintivo que o empurrava a continuar. Era resistência pura, sem razão, apenas porque a vida ainda estava acontecendo, porque os passos, mesmo sem destino, ainda podiam ser dados.

Ele levantou-se, sentindo a dor nas pernas e a exaustão no peito, mas também uma estranha clareza. Talvez a verdadeira liberdade estivesse justamente em aceitar que nada precisava fazer sentido, que o mundo não recompensava e nem punia de acordo com méritos. 

Caminhar, existir, respirar — isso já era suficiente. Cada rua sem nome, cada rosto indiferente, cada erro alheio e cada perda própria se transformava em aprendizado, ou pelo menos em consciência.

E enquanto a noite caía, envolvendo a cidade em sombras profundas, ele percebeu que a solidão não era inimiga. Ela era apenas o espaço onde podia pensar, observar e entender que a vida, apesar de injusta, ainda era dele para viver. Talvez nunca tivesse controle sobre o destino, mas podia controlar como percorria cada rua, cada beco, cada esquina.

Com essa ideia, começou a andar novamente. Não esperava nada, não buscava nada, mas avançava com a sensação de que, mesmo no caos, havia algo que ninguém poderia tirar: o simples ato de continuar, de existir, de enfrentar a cidade sem nome passo a passo. E naquele caminhar solitário, ele finalmente encontrou uma espécie de paz silenciosa — dura, fria, mas genuína, como a própria vida.


Por: LegendZilla.

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