A Ponte Invisível - Um conto sobre solidão, destino e a sensação de atravessar a vida sem garantia

 A Ponte Invisível

Um conto sobre solidão, destino e a sensação de atravessar a vida sem garantia

Caminhar era sempre atravessar uma ponte que ninguém via, uma estrutura invisível que sustentava passos sobre o vazio. Ele nunca sabia quando chegaria ao fim, ou se chegaria. Cada degrau, cada laje imaginária, parecia instável, rangendo sob o peso da vida e das escolhas que fez. 

Tentou se convencer de que a bondade seria reconhecida, que o esforço traria recompensa. Mas, quanto mais caminhava, mais a certeza de que tudo era em vão se infiltrava em seus ossos.

Viu pessoas atravessarem a ponte sem medo, sorrindo, ganhando o mundo com golpes, mentiras ou pura sorte. Ele, ao contrário, sentia cada passo como se andasse sobre vidro fino, prestes a quebrar a qualquer momento. 

Lembrava-se de todos os atos corretos, de todas as vezes que ajudou e não recebeu nada em troca. A ponte parecia zombar dele, lembrando que nada no mundo seguia regras justas.

O vento soprou frio, carregando o cheiro de ruas distantes e lembranças de dias mais claros. A cada sopro, surgiam vozes: umas pedindo que desistisse, outras sussurrando que resistisse, mesmo sem sentido. 

A ponte se estendia diante dele como metáfora viva da própria existência: instável, incerta, invisível para quem não se importava, mas essencial para continuar vivendo.

Sentou-se por um instante, as mãos nos joelhos, olhando para o vazio que se abria abaixo. Era vertigem pura, e ainda assim, sentiu um fio de coragem percorrer a espinha. Talvez não houvesse justiça, talvez nunca houvesse recompensa, mas havia o ato de atravessar.

Cada passo era escolha, mesmo que a vida não garantisse nada além do próximo instante.

Levantou-se, respirando fundo. A ponte podia ser invisível, mas estava ali, sustentando-o. E se o mundo fosse apenas caos, injustiça e acaso, ele decidiria atravessá-lo de qualquer maneira. Cada passo seria sua afirmação silenciosa: apesar de tudo, ele existia, caminhava, resistia.

E enquanto a noite caía, envolvendo a ponte e a cidade em sombras longas, ele percebeu que a coragem não vinha de controlar o destino, mas de enfrentar o vazio sem esperar nada em troca. 

Caminhar sobre a ponte invisível tornou-se seu ato de liberdade — um passo de cada vez, sobre o nada, carregando a própria verdade e a consciência de que continuar já era vitória suficiente.


Por: LegendZilla.

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