O Caminho das Sombras - Um conto sobre escolhas, injustiça e a ilusão de controle sobre a própria vida
O Caminho das Sombras
Um conto sobre escolhas, injustiça e a ilusão de controle sobre a própria vida
Caminhar parecia sempre a mesma coisa: passos em vão, ruas que se repetiam como se a cidade tivesse esquecido de si mesma, e o vento frio que trazia o cheiro de abandono e descaso. Ele sentia cada pedra sob os pés como um lembrete silencioso de que, não importa o quanto se esforçasse, nada do que fazia mudava o mundo ao redor.
Lembrava-se de cada decisão que acreditou ser certa. Socorreu pessoas, defendeu quem precisava, guardou a verdade quando outros preferiram mentir, e ainda assim se viu diante do caos. O mundo não tinha lógica, e nem recompensava a bondade; muitas vezes, punia. Amigos sinceros desapareciam cedo, enquanto enganadores e manipuladores prosperavam sem esforço, sem remorso. A justiça, pensou, talvez fosse apenas um conceito inventado para nos enganar.
Ele entrou em um beco escuro, onde o silêncio parecia mais pesado que o próprio ar. Cada sombra parecia observá-lo, cada parede suprimia o som do mundo exterior. Tentou lembrar de histórias que ensinavam que a vida recompensava os bons, mas tudo parecia mentira. O acaso, o destino ou o que quer que comandasse o mundo — se existia — parecia brincar com todos, distribuindo dor e recompensa sem critério, como uma roleta que nunca para.
Sentou-se no chão frio, encostado em tijolos úmidos, e fechou os olhos. Foi nesse momento que percebeu algo que ninguém poderia lhe tirar: enquanto não podia controlar o que acontecia, podia escolher como reagir. A vida não prometia nada; o mundo não prometia nada. Mas cada escolha feita, cada passo dado no beco escuro, era dele. A única liberdade real era decidir continuar, mesmo quando nada parecia ter sentido.
Ele levantou-se devagar, sentindo o peso do corpo e da mente, mas também uma clareza silenciosa: talvez o que chamavam de “vida justa” nunca existiu. Talvez o sentido não estivesse fora, mas dentro dele. Cada gesto, cada respiração, cada minuto em que escolhia seguir em frente se tornava o próprio propósito. Não havia recompensa garantida, não havia equilíbrio, não havia plano que se pudesse entender. Só havia ele, andando, encarando o vazio, enfrentando as sombras que a cidade espalhava em cada esquina.
E enquanto a noite engolia as ruas e apagava os rostos indiferentes, ele continuava a caminhar, aprendendo a abraçar a incerteza. O medo, a frustração e a solidão deixavam de ser inimigos para se tornarem companheiros de viagem. Porque, no fim, talvez a verdadeira vitória não fosse mudar o mundo, mas simplesmente persistir nele, mesmo sabendo que ele nunca mudaria para você.
A cada passo, o corredor de sombras se tornava menos opressor. Ele não esperava reconhecimento, não buscava justiça, não precisava de razão. Apenas caminhava, respirava, existia. E, pela primeira vez em muito tempo, sentiu que havia encontrado algo sólido na instabilidade: a consciência de que continuar, mesmo em meio ao caos, já era um ato de coragem.
Por: LegendZilla.
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