A História de Quem Só Sobreviveu: o Vazio de Viver Sem Recompensa
Ele se chamava Yuri. Ninguém parava pra ouvir a história dele, ninguém perguntava como ele se sentia. Talvez porque a resposta assustasse.
Desde criança, Yuri percebeu que a vida não era justa. Mas ele cresceu ouvindo o contrário. Os professores diziam que se ele estudasse, seria alguém. Os pastores diziam que Deus tinha um plano. Os coachs da internet falavam que era só “mentalizar” e que tudo mudaria. Yuri fez tudo isso. E continuou quebrado. Não quebrado só no bolso. Mas na mente. No corpo. Na alma.
Yuri não tinha nenhuma carta boa na mão. Era baixinho, com um rosto sem carisma, um corpo sem força, uma mente lotada de barulhos. Ele vivia com TDAH, ansiedade, um TOC que fazia ele gastar horas pra sair de casa por causa de rituais mentais. Nunca diagnosticado direito, porque psiquiatra bom era caro, e ele precisava escolher entre o remédio ou comer.
Enquanto ele suava em empregos exploradores, via moleques do bairro crescerem com talento, altura, beleza, presença, saúde mental… e um mundo inteiro que parecia abrir as pernas pra eles. Influencers que só piscavam e ganhavam rios de dinheiro. Gente que falava merda e era aclamada como gênio. E ele? Trabalhava de segunda a sábado por um salário que evaporava antes do dia 10. Tentava empreender, tentava fazer curso, tentava não pirar. Mas sempre parecia que tinha uma parede invisível entre ele e o sucesso.
Yuri não era preguiçoso. Ele só tava cansado. Muito cansado. A cada tentativa que falhava, ele sentia o mundo sussurrando que ele era só um erro. Um bug social. Que nunca teria trégua. Enquanto isso, o tempo passava. E ele via sua juventude se esfarelando. A beleza que nunca teve sendo sugada pela exaustão. A energia que uma vez usou pra sonhar agora era usada só pra sobreviver.
"Rico ou pobre, todos morrem", ele pensava, "mas tem uma diferença: alguns vivem... eu só tô sobrevivendo".
Ele foi honesto quando deu. Foi justo quando pôde. Mas a vida retribuiu com desprezo. Com indiferença. Com portas fechadas.
Até as pessoas em quem ele confiava sumiam quando ele caía. Ninguém quer cuidar de quem tá quebrado.
Yuri não era mal, mas o mundo ensinou ele que ser bom não era garantia de nada. Que talvez… ser bom fosse só mais uma forma de continuar apanhando calado.
Algumas noites, ele deitava na cama e não via sentido em acordar no dia seguinte. Não por querer se matar. Mas por simplesmente não querer continuar. A morte parecia menos violenta do que mais uma semana tentando fingir que tava tudo bem. No fundo, ele não queria morrer. Ele só queria descansar. Ele só queria parar de carregar o mundo nas costas enquanto outros flutuavam sem peso nenhum.
"Talvez Deus tenha favoritos", ele murmurava olhando pro teto. "E eu não sou um deles".
A verdade doía. Doía saber que você pode fazer tudo certo e ainda assim ser engolido. Doía saber que não há prêmio pra quem aguenta firme. Doía ver que enquanto você sangra tentando fazer dar certo, tem quem ria recebendo tudo de mão beijada.
Yuri ainda respira. Mas cada dia é uma batalha. Uma guerra invisível. Não contra inimigos externos. Mas contra a sensação de não valer nada. De ser irrelevante.
E talvez o mundo continue sem notar se um dia ele simplesmente não estiver mais aqui.
Mas agora você leu isso. E talvez, por um segundo, você tenha sentido o que ele sente.
Talvez o vazio dele tenha ecoado dentro de você também.
Por: LegendZilla.
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