O Silêncio dos Olhos - Um conto sobre percepção, dor invisível e a sensação de carregar o mundo sozinho
O Silêncio dos Olhos
Um conto sobre percepção, dor invisível e a sensação de carregar o mundo sozinho
Caminhei pela cidade e notei que ninguém realmente olhava. Não com atenção, não com profundidade. Os olhos das pessoas passavam por mim como janelas fechadas, bloqueando qualquer contato. Durante anos, acreditei que fazer o bem, ser correto, seria percebido, recompensado de alguma forma.
Hoje, percebia que nada disso importava. O mundo parecia indiferente, e a justiça, se existia, estava escondida atrás de véus que ninguém podia levantar.
Sentei-me em um banco de praça, observando a multidão que corria apressada, rindo, discutindo, ignorando os pequenos detalhes que poderiam importar. Vi gestos de bondade passarem despercebidos e atos cruéis serem celebrados, ou pelo menos tolerados. Cada olhar que não se encontrava comigo era um lembrete de que viver corretamente não garantia nada além do próprio esforço.
Fechei os olhos e tentei sentir alguma verdade dentro de mim. A vida não precisava fazer sentido para existir. O mundo não precisava ser justo para continuar girando. Havia uma liberdade estranha nisso: perceber que ninguém podia tirar a consciência de meus próprios passos, mesmo quando o mundo ignorava minhas escolhas.
Levantei-me, sentindo a solidão pesar, mas também uma clareza silenciosa surgir. Cada passo que eu dava, cada respiração, cada escolha de continuar existindo, era uma afirmação de mim mesmo. Mesmo que os olhos alheios nunca vissem, mesmo que ninguém notasse, eu estava ali, consciente, resistindo.
E enquanto a noite caía, enchendo a cidade de sombras alongadas, percebi que não precisava da aprovação de ninguém. O silêncio dos olhos não era vazio; era a chance de existir sem filtros, de caminhar sem recompensas externas, de enfrentar a injustiça silenciosa e ainda assim permanecer firme.
Cada passo se tornava resistência, cada gesto se tornava próprio, cada olhar que eu desviava da multidão me lembrava de que a verdadeira força estava em continuar, mesmo quando ninguém assistia.
No fim, percebi que o mundo podia ignorar tudo, mas minha existência, minha percepção e minha escolha de caminhar eram indestrutíveis. E mesmo sem recompensas, mesmo sem justiça, mesmo sem sentido, o simples ato de continuar era suficiente.
Por: LegendZilla.
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